sábado, 23 de junho de 2007

Despedida

Recebi esse texto de uma amiga. Trata-se de uma crônica de Roger de Renor, onde é relatado uma sexta feira triste na avenida Boa Viagem...
Imagem copiada gentilmente do site:www.meurecife.com.br/frames/frame_fotos.htm

O dia era sexta-feira e não poderia ter sido outro, a dor de uma perda é mais leve numa tarde de sexta, e era com essa expressão na cara, que as pessoas se sentaram pela última vez no murinho da Av. em frente ao Hotel Boa Viagem, ninguém pôde fazer nada, a não ser, se solidarizar com a dor da perda e velar o prédio sendo nocauteado pelo progresso. Pelo progresso do fracasso de uma cidade, que cresceu pra cima e agora por cima de tudo que se possa pagar, vender e se ostentar. Quem comprar o milionário apartamento, no milionário edifício construído em cima do Hotel Boa Viagem, vai carregar o karma de quem mora em cima de cemitério, e no hall, provavelmente, haverá uma linda foto antiga muito bem colocada pelo arquiteto da coluna social, para que ninguém esqueça porque é tão fino e caro morar naquele lugar... algo como vestir casacos de pele de animais em extinção. Tão delicioso quanto carne de tartaruga marinha, só mesmo a memória afetiva e coletiva de uma cidade inteira inclusa na conta de seu condomínio, junto com a TV a cabo e água mineral Indaiá.

Se você ainda não foi embora até agora, aí está uma ótima oportunidade que esta cruel cidade agora lhe oferece na planta. Recife vive disso de botar a gente pra fora e depois fechar a porta antes mesmo que você possa sair. Presos em uma cidade que já não é mais sua, você se depara com este texto refletido na cara de uma gente que engarrafou o trânsito sem acreditar, e via cair o último andar do edifício que parecia morrer sorrindo. "Se essa cidade fez isso com ele, imagina comigo...". Parecia claro na dor "de parente" na cara da galera, mas é assim em Recife... é o poder e o fuder se divertindo na noite, e de dia, movimentando um mercado de prédios fantasmas, de investidores suspeitos, de apartamentos fechados e de donos quase os mesmos... e que nunca serão seu... porque Recife quer mesmo, é que tu vá embora.

Em vez de "perigo tubarão" na placa, deveria está escrito: O que é que eu tô fazendo aqui? Ficar é opção, o que não seria opção, é não poder sair, e se sentir impotente em mudar qualquer coisa, num lugar onde o passado manda, a conveniência governa, a hipocrisia convive e o silêncio coroa. Recife demoli a gente diariamente, e tomba a mediocridade e o poder financeiro, só mesmo sendo a origem de nossa base social econômica a cana de açúcar, que fez você ficar assim, minha querida Recife; "CÚ DOCE" para sempre!!! Recife sempre foi metida à fina... mas é mais baixa que o nível do mar!!!
Despedida - Roger de Renor.

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