quinta-feira, 30 de agosto de 2007

José Raulino Sampaio e José Olivá

Esse ano foi publicado no JC uma matéria que ressaltava a importância Drummoniana nos rincões de minha terra natal. Ganha nota 10 o Jornal do Commércio e Zero pra esse blogueiro que não leu o jornal e sequer soube da matéria. Salvo fui por Marcelo Cavalcanti Sampaio que me mandou a reportagem hoje. Pela dimensão do fato, publicarei a reportagem na íntegra:
"Aconteceu há mil anos? Continua acontecendo.
Nos mais desbotados panos estou me lendo e relendo".
" O grupo de Petrolina Publicado em 26.04.2007, às 20h07
Diogo Max e Priscila MunizDo curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco

Em 02 de novembro de 1977, a revista Veja publicava uma nota ao final de sua reportagem especial em comemoração aos 75 anos do poeta Carlos Drummond de Andrade. Intitulada “os apóstolos”, ela trazia uma foto na qual dez pessoas se dispunham ao redor de uma cadeira de balanço, que abrigava um pôster do poeta mineiro, como se Drummond, sentado na cadeira, fizesse parte da reunião. O texto se referia à fundação do Clube Drummoniano de Poesia de Petrolina, cidade localizada no interior de Pernambuco, às margens do Rio São Francisco. Em um de seus trechos, a matéria dizia: “Em torno da cadeira, os integrantes do Clube Drummoniano de Poesia de Petrolina, cidade de 40 mil habitantes, situada a 800 km do Recife, concretizavam no último dia 8 um velho sonho: reunir os intelectuais da terra para homenagear o poeta”.
“Não era em torno da cadeira que nos reuníamos. Era em torno de uma mesa velha. Essa história foi uma encenação montada pelo jornalista. Havia o pôster, que mandamos fazer para a ocasião, mas a forma como ele apareceu, atrelado à cadeira de balanço, foi proposta pelo repórter, para fazer a foto”, esclarece a professora aposentada Elisabet Moreira, uma das personagens da fotografia. Mas foi a história dessa publicação que desencadeou a fundação do Clube. Segundo Elisabet, hoje com 60 anos, a matéria acabou por colaborar com a organização do grupo.
Foi justamente a possibilidade de aparecer na Veja que apressou a criação do Clube Drummoniano de Poesia na Cidade de Petrolina. Antes da publicação, os amigos e poetas José Raulino Sampaio e José Olivá Apolinário tinham a intenção de reunir os escritores da cidade em um grupo de discussões literárias. A idéia do nome “Clube Drummoniano de Poesia” surgiu do desejo que José Olivá tinha em homenagear Carlos Drummond pelo seu aniversário. Nessa época, ele escreveu para a revista Veja sugerindo uma reportagem em comemoração à data e mencionando sua intenção de criar o clube. A revista enviou resposta informando que já estava produzindo o especial e pedindo permissão para cobrir a fundação. Com isso, o clube acabou por sair do mundo das idéias para se tornar realidade.
A partir daí o já falecido José Raulino Sampaio, na época com 80 anos e poeta desde a juventude; José Olivá Apolinário, funcionário público com seus 29 anos e maior incentivador do Clube; Elisabet Moreira, paulista e professora de Teoria Literária; Irene Lage, professora de piano aos 30 anos; e o jovem músico Aloísio Brandão, desenvolveram, junto a outros poetas mais ou menos assíduos, o que se tornaria um dos maiores movimentos culturais da cidade de Petrolina.
Após a reunião inaugural, os líderes do movimento, José Olivá e José Raulino, enviaram para Drummond uma carta de saudação e um presente de aniversário: uma das famosas carrancas do São Francisco. Foi assim que se iniciou a correspondência dos dois com o poeta de Itabira. No dia 16 de novembro de 1977, Drummond destinou duas cartas, uma para cada José, demonstrando sua surpresa pela criação de um grupo em sua homenagem no interior de Pernambuco. Ele também escreveu frases de incentivo ao movimento, repetidas em várias outras cartas que se seguiram a essas.
“Éramos aficcionados no Drummond que, de repente, passou a se corresponder conosco, intensamente. Logo ele, o retraído, correspondendo-se veementemente com um bando de sertanejos da caatinga mais inóspita e longínqua”, brinca Aloísio Brandão.

ATIVIDADES – As reuniões do Clube aconteciam no último domingo de cada mês, inicialmente na casa de seu José Raulino, na estreita Rua Marechal Deodoro, número 927. Depois, passaram a ocorrer na sede da Associação dos Artífices Petrolinenses. Nos encontros, além de apresentarem seus próprios trabalhos literários, os membros liam e discutiam a obra de Drummond e de outros poetas brasileiros. “Nas reuniões, longe de nos situarmos em torno de nós mesmos, criando auras recíprocas, comentávamos sobre lançamentos, produções, autores; enfim, cada um contribuía com um pouco”, comenta Irene Lage.
As correspondências dos dois Josés com Drummond, bem como as duas visitas feitas por Olivá ao poeta mineiro (em 1978 e em 1980), foram um forte incentivo para a persistência do clube. A partir de 78, o movimento passou a contar com um programa semanal na Emissora Rural de Petrolina, o Música & Palavra, onde os membros divulgavam canções de artistas regionais e declamavam poemas. Os drummonianos também conseguiram uma coluna no extinto jornal petrolinense O Farol, na qual faziam crítica literária e escreviam crônicas.
Mas os integrantes sentiram a necessidade de realizar algo mais concreto, que pudesse evidenciar a existência do Clube Drummoniano. Com esse intuito lançaram, em outubro de 1979, a Revista Drummoniana número 1, que reunia parte da criação literária de cada poeta do movimento. “O primeiro número da revista saiu a duras penas, editado numa tipografia, com a colaboração de algumas empresas”, destaca Elisabet Moreira. Em novembro do ano seguinte, surgiu a Drummoniana número 2, editada em Recife e com uma estética mais sofisticada. Ambas as revistas reuniam trabalhos influenciados pelo modernismo de Carlos Drummond de Andrade.

Para alguns integrantes do movimento, foi o Clube Drummoniano que trouxe o modernismo para Petrolina. “Ele abriu as portas para o novo, o moderno, que muita gente na cidade não conhecia. Eu acredito que o movimento abriu a cabeça de muita gente não só na cidade, como fora dela. E veio ajudar a dar um novo impulso à cultura de Petrolina”, afirma José Olivá. “O que inteirava em Petrolina era aquela poesia romântica, parnasiana, dos sonetos. Aquela poesia muito derramada. É como se o modernismo de 22 ainda não tivesse chegado aqui. Mas o Clube Drummoniano mostrou que existia uma outra maneira de se fazer poesia, de se ler poesia, que era o próprio Drummond, o moderno por excelência e um grande poeta brasileiro”, acrescenta Elisabet.
Durante o período mais fértil do movimento, Carlos Drummond chegou a enviar cerca de 20 livros para ajudar a construir a biblioteca pública do Clube, que ele próprio idealizara em suas primeiras cartas. No entanto, o clube acabou sendo extinto antes de concretizar o desejo do poeta.



Fotos e matéria encontrados no: http://jc.uol.com.br/2007/04/26/not_137746.php

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