Desde ontem
estou um tanto à flor da pele. Não sei o motivo. E até sei. Por ser visceral
demais, os fatos externos corroboram. Uma reportagem, uma cena, um
depoimento... Até a morte de Hebe Camargo ajudou a me fazer mergulhar nas reminiscências...
O conjunto de coisas que acontecem ao meu redor acaba, peremptoriamente,
mexendo com meu cotidiano. Ser emotivo tem esses lances noiados, é de praxe.
Para completar esse turbilhão de
pensamentos que povoam meu raciocínio, quando estou dirigindo gosto de mudar a
estação, várias vezes. E daí, colhendo uma frase aqui, outra acolá, vou
descobrindo tantas respostas para dúvidas que eu carrego desde a adolescência. Fase essa que teimo em achar que sequer sai.
Então, sozinho, no carro, ouço Carl Simon – Coming Around Again - é nostalgia
pura, afinal, tudo pode acontecer novamente, e só quem viveu na intensidade que
eu vivi sabe reconhecer a representatividade que esses devaneios musicais
causam.
Voltando: Muitas rádios da Região
Metropolitana, e acredito que de todo Brasil,
tem um tal de Especial do Rei Roberto Carlos. Cara, a sensação é forte. É
viajar e voltar à infância. É sentir que a felicidade sempre esteve ao nosso
alcance, nós, por muitas vezes, acabamos por estragar o que a vida nos dá.
Ouvir Roberto me lembra cheiros. Perfumes. Pessoas. Lembro-me de Tia Evanira, lembro-me
de meu vô Maneca, de minha vó Ritinha. E lembro que a vida passa, e passa
célere demais. E nesse passar ela leva tantas verdades, tantos mitos, tantos
objetivos... E sua rapidez insana esconde as cicatrizes que a vida nos dá,
marcando indelével e forte, feito aço quente em lombo de rês.
Juro, não
quero ir tão cedo. Quero chegar aos 100, se Deus assim permitir. Mas, em cada
ano que eu viva, que arranque as melhores gargalhadas, os mais sinceros
olhares, as mais fiéis preces, os mais afetuosos abraços. Que eu siga mudando
com a vida e que jamais a vida me mude. Que eu possa olhar dentro de minha alma,
e aos poucos, reconheça meus erros, vença meus medos, dome meus instintos.
Que o destino, esse camarada
impetuoso, traga para meu caminho, todas as escolhas que não fiz. Que as
pessoas que cruzaram minha estrada tenham a convicção que deixaram em mim o seu
melhor e levaram de mim o meu melhor. E que lá, na frente, corram, se apressem,
busquem aquilo que perdeu. Afinal, a gente só perde aquilo que é nosso. E a
nossa lembrança e nossa saudade são a promissória não resgatada de um saldo
devedor, onde a correção são as marcas implacáveis do tempo.
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